quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ilha do Pantanal - a maior ilha fluvial do mundo

A Ilha do Pantanal já estava há algum tempo na nossa lista de lugares no Brasil a conhecer. A primeira tentativa realizada por Ronald, de moto, foi em junho deste ano e não deu certo porque os rios estavam muito altos e não dava prá passar nem de moto, nem de carro. Decidimos, então, ir em outubro, pois a informação recebida foi a de que de agosto a outubro é período de estiagem, os rios estão baixos, possibilitando a passagem. A Ilha do Pantanal fica no Estado do Tocantins. Por um lado é margeado pelo rio Araguaia, e pelo outro pelo rio Javaés. São rios largos e que, em época de chuvas, contém muita água. Há outros rios menores que passam pela própria ilha, que é realmente muito grande. Onde fizemos a travessia a ilha tem uma largura de 100 quilômetros.
De São Paulo a São Félix do Araguaia, ponto de partida para a travessia, precisamos dois dias de viagem. A distância é grande, mas as estradas são boas, e conseguimos avançar rapidamente.






O tempo estava bom, somente pegamos chuva por cinco minutos no final do primeiro dia. Como o carro era confortável (Ranger 4x4), o cansaço foi bem administrado. Não parávamos para almoçar. Havíamos levado junto nozes diversas, biscoitos salgados, queijo parmesão e água, o que era suficiente para enganar o estômago, ganhar tempo e avançar quilômetros a fio. Parávamos somente para abastecer e ir ao banheiro.




A paisagem alternava basicamente entre grandes extensões de plantação de cana de açúcar, milho, terra arada e preparada para novo plantio e pastos e mais pastos. Principalmente em Goiás há muitos pastos, de imensa extensão. Pouco vimos de cerrado. Somente na beira de estrada, de vez em quando, via-se resquícios deste tipo de vegetação tão importante para o ecossistema e que, paulatinamente, foi dando espaço a grandes fazendas.
Jantávamos no início da noite, depois de termos nos instalado nos hotéis e pousadas, que sempre são muito simples e, com sorte, são limpas. Jantar simples, normalmente arroz, feijão, alguma carne ou peixe e salada. Normalmente bem temperada, saborosa, suficiente para dar conta da fome. No jantar tomávamos cerveja, sempre skol. O calor era sufocante, entre 33 e 38 graus. Surpreendentemente não nos deparamos com muitos insetos. Havia mosquitinhos, mas que não atrapalhavam. O que havia em profusão eram grilos. E como incomodam quando cantam sem parar... É o período de acasalamento dos grilos, e não há o que fazer... Ocupam praças e árvores durante dois a três meses, depois somem.











Para chegar a São Felix do Araguaia tivemos que rodar mais ou menos 300 quilômetros em estrada de terra, em péssimo estado de conservação - a BR 158. Nossa sorte foi não ter chovido durante o trajeto, do contrário certamente teríamos atolado. Cruzamos com incontáveis caminhões de grande porte, o que levantava uma poeira sem fim. Uma batida forte num buraco na estrada quebrou um parafuso da porta do carro. É só para se ter idéia do estado desta estrada. Perdemos a entrada para São Felix, o que nos fez andar 20 km a mais desnecessariamente por esta horrível estrada. Foi um alívio chegar a São Felix, apesar do escrachante calor de 38 graus.

Na avenida que margeia a orla, fomos a três hotéis. Não havia muito o que escolher. Fomos no menos pior, que pelo menos tinha espaço para tomar banho (em outro o chuveiro ficava praticamente por cima da pia) e um forro no teto. O colchão era razoável, e havia espaço para nossa bagagem. Além disso um absoluto luxo de um ar condicionado Split, que é menos barulhento.




São Felix do Araguaia é uma simpática e pequena cidade às margens do rio Araguaia. Sua gente é simpática e gentil. Qualquer informação que se queira ou se precise é dada com prazer. No dia em que estivemos em São Felix havia pouca gente, e nos explicaram que havia um evento em Formoso para onde  tinham ido o prefeito, os vereadores e moradores, para discutir a construção da continuidade da TO-500. A intenção é que atravesse a Ilha do Bananal, para viabilizar a passagem durante o ano inteiro, uma vez que só há balsa no rio Araguaia, com o preço proibitivo de 100 reais a travessia. Como a Ilha do Bananal é reserva indígena, acho complicado este intento  e duvido que os índios concordem com esta iniciativa. É esperar para ver o que acontece. Os índios cobram pedágio. Dependendo do índio que te recebe numa porteira com cadeado, entre 40 e 70 reais. Nós pagamos 40 reais.
A travessia pela Ilha do Bananal foi tranquila. Não há estrada. O que há são trilhas bem delineadas, o que permitiu que não nos perdêssemos neste ambiente de ilha. A paisagem muda várias vezes. Ora vegetação típica de cerrado, ora palmeiras, vegetação rasteira com muitos montinhos de terra que parecem brotar do chão (inicialmente pensamos tratar-se de tocos, mas depois vimos que eram montinhos de terra), alguma coisa de pasto com um gado bastante magro. Não vimos índios. Não vimos ocas. Nem sinal de tratamento da terra. Cruzamos com muitas camionetes. Eram os políticos retornando do evento. A trilha era tão estreita que um dos dois carros sempre tinha que sair da trilha para dar passagem ao outro.


A travessia levou três horas. Traspassamos vários rios no percurso. Foi um trajeto muito tranquilo, gostoso de se andar.






No retorno pegamos a BR 153, em bom estado de conservação, o que permitiu rápido avanço, e conseguimos chegar até Pirenópolis, no Estado de Goiás, não muito longe de Brasília.






Pirenópolis é uma simpática cidade colonial que data de 1727, e cujo foco principal é o turismo. No dia seguinte atravessamos o Parque Nacional dos Pirineus, e finalmente vimos o Cerrado de perto, em estado original.









De lá fomos a Caldas Novas, onde literalmente mergulhamos nas águas quentes para relaxar nossos combalidos músculos. E, no dia seguinte, direto para São Paulo.
Foi uma viagem do tipo vapt vupt. Viajamos 5 dias, e rodamos 3850 km. Conhecemos e apreciamos mais um pedacinho deste tão grande e diversificado Brasil.

Algumas dicas para quem for viajar para o interior do Brasil:

a) há necessidade de duas características: desprendimento e espírito de aventura. Não se sabe o que se vai encontrar pela frente. É necessário abdicar de luxo e conforto quando necessário, sem ficar reclamando;
b) se possível, viajar com um carro confortável, que tenha tração nas quatro rodas quando no trajeto houver estrada de terra. É claro que é possível viajar com carro pequeno, mas os riscos são maiores, e fica mais difícil viajar por muitas horas seguidas;
c) levar kit básico de limpeza e de higiene junto: álcool em gel, luva descartável, papel higiênico, rolo de toalha de papel, lenços umedecidos, etc. Assim que se sai do Estado de São Paulo os banheiros ficam deploráveis, muitas vezes em mau estado de conservação e sujos. Melhorou muito nos últimos anos, mas ainda em estado ruim. Os banheiros da rede BR via de regra estão em melhor estado de conservação e limpeza;
d) levar água  junto, apesar de que nos últimos anos se encontra água em todos os postos nos quais se para. Mesmo assim, seguro morreu de velho, e água no carro sempre é uma boa pedida;
e) levar mantimentos secos, do tipo biscoitos doces e salgados, nozes diversas, queijo parmesão, etc. Em trajetos muito longos, de cerca de 1000 km por dia é perda de tempo parar para almoçar. É melhor enganar o estômago, e jantar adequadamente à noite, no destino traçado para o dia. Frutas também são uma boa pedida, desde que sejam frutas que aguentem por algum tempo, como maçãs, por exemplo. Normalmente levamos faca, garfo, colher, tesoura em um recipiente de plástico, e também sacos de lixo para cada dia, a fim de colocar os resíduos neste saco e descartar em lixeira quando se chega ao destino.