sábado, 30 de novembro de 2013

As três mosqueteiras em Rothenburg ob der Tauber...parte 02

Rothenburg ob der Tauber. Acordamos às 7:45 super dispostas e prontas para ir a Rothenburg. O dia amanheceu bem nublado, 2 graus e um frio úmido. Tomamosmcafé, e iniciamos a viagem. O GPS , nosso especial amigo Garmin, nos levou diretamente a Rothenburg. Mudamos de várias auto estradas na tranquilidade de saber que chegaríamos exatamente ao nosso destino. Achamos facilmente um estacionamento porque ainda era relativamente cedo. Inicialmente subimos as escadarias íngremes do muro que circunda a cidade e apreciamos a cidade de cima. Ainda não havia muitas pessoas. Descemos e iniciamos nossa caminhada por entre ruelas e vielas desta cidade medieval muito especial. Paramos no primeiro mercado natalino ( há vários deles), e deu vontade de começar a comprar tudo, desenfreadamente. Mas nós seguramos e continuamos à caminhada.seguimos até a prefeitura, que está em obras, e onde havia outro mercado. A partir daí, entramos em praticamente todas as lojas natalinas e ficamos enlouquecidas com a oferta e a qualidade dos enfeites de Natal! Ah! Se fossemos milionárias ...











Almoçamos às duas da tarde, num restaurante que mais parecia uma boate com suas luzes azuis néon. Depois iniciamos o caminho de volta até o estacionamento, e agora havia muita, muita gente nas ruas. Levamos m bom tempo até chegar ao estacionamento. Colocamos nossas compras no porta malas, e acionamos o GPS. Caramba, este não deu um sinal de vida... E agora? Tentamos várias vezes, e nada. Chegar em Nürnberg seria da il, o problema era chegar no hotel, pois não tínhamos o endereço, havíamos confiado plenamente no Garmin. E agora, o que fazer? No carro havia um Navegador embutido, resolvi procurar orientação no manual, mas nevas pitiribas. Resolvemos parar num supermercado para nos abastecer deágua, na esperança que o GPS voltasse a funcionar. Mas nada! A minha maior preocupação era o dia seguinte. Como ir a Praga sem GPS, sem entender lufas de tcheco?









Vivia lembrou de um amigo que a havia orientado quanto a seu celular: manter o dedo por 30 segundos. Tentamos este expediente e eureca! O Garmin voltou a funcionar. Neste meio tempo também havíamos descoberto o funcionamento do navegador do carro, e assim retornamos a Nürnberg duplamente orientados: em alemão, pelo meu GPS, e em italiano, pelo navegador do carro.
À noite resolvemos jantar mais uma vez no Ciao, que fica próximo do hotel. Quando chegamos lá ficamos sabendo que mesa somente mediante reserva. Acho que nossa cara foi de tamanha decepção que arranjaram uma última mesa pra gente. Queríamos uma pizza somente com um litro de vinho da casa, mas fomos informados que somente havia pizzas brotinho . Quando chegaram as pizzas ficamos pasmas. Não eram brotinhos, eram brotões, de tão grandes. A fome era grande, mas não damos conta....
Foi um belo dia, um dia muito especial que certamente ficará para sempre em nossa memória...

Três mosqueteiras desbravando 'o velho continente'...


 
Três mosqueteiras 'desbravando' o velho continente...
Parte 01:
 
Não é nenhuma novidade que o trânsito em SP é um inferno e, por isso, demoramos muito pra chegar ao aeroporto mas, em contrapartida, o check in foi rápido e ainda deu tempo suficiente para algumas comprinhas no duty freeshop. O avião atrasou  40 minutos, nada dramático, e recuperou 20 minutos durante o voo. Fora um bando do Leste Europeu que insistiu em falar alto, dar sonoras gargalhadas e atrapalhar o sono dos passageiros, assim como algumas turbulências, o voo transcorreu tranquilo e o bando silenciou, já altas horas da madrugada, deu até pra dormir.
Em München, os trâmites de saída foram rápidos,e fomos à Hertz para alugar um carro. Pegamos um Volvo SUV, cheio de recursos tecnológicos e muito confortável, fizemos seguro total - nunca se sabe-  e nos deram de 'brinde' um carro automático.
Quando chegamos no carro descobrimos que ele não tem chave. Bom, a primeira tarefa foi descobrir o seu funcionamento. Como abrir o capô do carro, como acionar o carro, como instalar o GPS, etc,etc,etc. Mas as três mosqueteiras conseguiram se desvencilhar dos empecilhos de forma estonteante. Viva nós! Rapidamente estávamos na estrada, em direção a Nürnberg. Optamos pela auto-estrada, para irmos mais rápido, e chegamos em Nürnberg antes do almoço. Encontrar o hotel não foi um problema, chegamos de primeira - viva o GPS, e chegamos a um simpático e simples hotel de fundo de quintal. Não havia ninguém. Chamamos, chamamos, chamamos, passamos por todos os quartos do térreo cujas portas estavam abertas, encontramos uma funcionária que não sabia falar nem alemão nem português, e Vivia teve a brilhante ideia de perguntar a um rapaz que trabalhava na oficina da frente. Este resolveu telefonar para o hotel, mas neste meio tempo já havíamos resolvido o problema pois havíamos achado a campainha do hotel e-viva- a dona apareceu, e não entendeu nadica de nada quando tocou o telefone e o simpático moço anunciou nossa chegada. Nos instalamos e, por recomendação da dona, fomos almoçar num restaurante chamado Ciao. Boa dica. Comida boa e em conta. Pra cada uma custou em torno de oito euros. O garçom ainda nos 
deu uma assessoria extra de como se conduzir em Nürnberg, na abertura do Christkindlmarkt: não 
levar nada, só um pouco de dinheiro no bolso e câmera fotográfica no pescoço, pois nos defrontaríamos com uma imensidão de gente, e sempre havia gente principalmente do Leste Europeu que batia carteira. De novo Leste Europeu?
Comentou também que deveríamos ir muito cedo, pois haveria uma imensidão de gente e não encontraríamos lugar se não fossemos cedo. Resolvemos então retornar ao hotel , nos desvencilhar de nossos apetrechos. Resolvemos levar guarda chuva o que foi muito bom, pois à noite choveu.
Olhamos o trajeto no mapa, não parecia muito longe, e iniciamos a caminhada. Perguntamos a um transeunte, depois a outro, e mais outro, e todos ficaram espantados que queríamos fazer o trajeto a pé. Muuuuito longe. Não parecia tanto pelo mapa, e seguimos, firmes e fortes, decididas a fazer o trajeto a pé. De fato, andamos muuuuuito, mas finalmente chegamos no muro medieval e, em seguida, na cidade histórica. Na primeira barraca paramos pra tomar um vinho quente - que delicia!, compramos as canecas como lembranças e, sentindo-mos mais aquecidas, seguimos rumo ao 
Hauptmarkt. Já percebíamos um fluxo maior de gente, mas nada nos preparou para o impacto  da 
multidão que encontraríamos no Hauptmarkt. Como chegamos uma hora e meia antes, ainda 
conseguimos um bom lugar próximo a um stand de vendas de quinquilharia de enfeites. Como eu sou muito grande, vivia encostando a cabeça em mobiles sonoros que ficavam tocando seus sinos e irritando a filha da dona que veio falar comigo algumas vezes pra eu tomar cuidado. Quem estava à minha volta acabou intercedendo dizendo que os mobiles eram resistentes, que não estragariam com meu esbarrar constante, e o tilintar  afinal de contas até podia chamar clientes,o que honestamente era impossível, havia tanta gente que não dava nem pra se mexer.




Aguardamos pacientemente. Os organizadores treinaram conosco, público, a música final a ser cantada ( isto só pode ser coisa de alemão!!! Treinar com a multidão a música a ser cantada!). Escureceu totalmente às 17 horas, e às 17:30 começou o espetáculo. Bonito, comovente, e no final entoamos todos o já ensaiado e afinado Oh! Du Fröhliche!

Terminado o espetáculo , queríamos sair dali, assim como todas as outras milhares de pessoas. Que sufoco. Éramos empurradas, levei um tanto de cotoveladas. Foi uma loucura total. Avançávamos 

milimetricamente, e tínhamos que ter o cuidado para não nos perder. Depois de muitos empurras pra cá, empurras pra lá conseguimos sair do tumulto e iniciar o caminho de  casa. Mais um Glühwein para esquentar, um sanduíche de linguiça para aplacar a fome, e lá fomos nós. Ainda estávamos com fome, mas a esta altura do campeonato não havia mais comida... Seguimos até o metro, fomos até Alsessplatz e de lá seguimos, sob chuva, até o hotel. Como era longe... Chegamos no hotel exaustas. Banho quente só para as duas primeiras, pois a terceira que tomou banho teve que se contentar com um banho morno, quase frio.
O quarto estava gelado, demorou para aquecermos, mas adormecemos todas rapidamente e dormimos o sono dos justos. Afinal, precisávamos recarregar as energias para o próximo dia!




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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

De beduínos a cidadãos da pós-modernidade - uma viagem surreal.



Algumas anotações...






O que pode motivar uma pessoa para viajar ao país mais fechado do mundo? A um país onde turistas não são bem-vindos, a não ser aqueles do sexo masculino, muçulmanos, que viajam uma vez na vida para este país para fazer a peregrinação à Mekka e Medina?


Há três tipos de pessoas que basicamente viajam à Arábia Saudita: a negócios, imigrantes à procura de trabalho, muitos deles ilegais, e por motivos familiares, que foi o meu caso, pois filho e família vivem temporariamente na Arábia Saudita por conta de contrato de trabalho.


Para conseguir visto familiar, foi necessário que meu filho solicitasse ao governo saudita uma carta convite. De posse deste documento, uma série de documentos foram enviados à embaixada de Brasília, e começou o processo de solicitação de visto, o que foi um processo moroso, custou incontáveis telefonemas e demorou uma sequência de dias que foram se somando constituindo semanas. A aflição foi grande. Afinal, a passagem estava comprada, e nada do visto chegar. Mas, finalmente, a funcionária responsável pelo processo dignou-se a informar que a documentação estava correta e que poderia enviar meu passaporte. A partir daí, o processo foi rápido, e em pouquíssimos dias o visto estava na minha mão.
O horário do vôo é desumano. 5 horas da manhã. Mas o único vôo possível. A conexão é por Istambul. É possível fazer outras conexões, mas está é a com o preço mais acessível.


Quando cheguei em Istambul, isto de madrugada, o aeroporto estava lotado. Não havia um mísero lugar para sentar, e resolvi sentar num carrinho que transporta pessoas e objetos pra cá e pra lá. Ninguém me importunou. Consegui ficar sentada por um bom tempo, até ser anunciado o portão de entrada. Conforme orientação, fui vestir a abaya, que na Arábia Saudita é obrigatória para todas as mulheres, inclusive as estrangeiras. O kijab ficou no pescoço, a informação era que em princípio estrangeiras não precisariam usá-lo, a não ser que a polícia religiosa já na Arábia Saudita resolvesse encrencar.


Vestir a abaya foi esquisito. Suava às bicas, apesar dos 11 graus. Nunca, na minha vida, me submeti à situação de vestir algo que não escolhesse por vestir. Aquilo não combinava comigo. Comecei a andar pelos longos corredores até chegar ao portão de embarque correto, cruzei com muitas mulheres de abaya, todas elas completamente cobertas, algumas inclusive os olhos. Seria eu a única estrangeira?
Cheguei ao portão de embarque. Muitos homens, e muitos deles de túnica branca e turbante quadriculado vermelho e branco. Pouquíssimas mulheres, todas cobertas até a alma. Então vi três estrangeiras, uma de mini-saia, outra de leggin, a terceira de jeans, e sem abaya. Como assim? Depois descobri que a abaya poderia ser vestida no próprio avião. Elas, entretanto, somente vestiram um pouco antes de chegar à fila da polícia federal.


O vôo foi tranquilo. Muitos cheiros. Depois descobri que os homens se perfumam muito. As mulheres também. Devem usar litros de perfume. Os homens, um odor meio agridoce, muito forte. As mulheres um odor doce, muito doce e intenso. Inebriante. Nauseante. Provocou dor de cabeça.


Cheguei em Rhiyahd à 6 horas da manhã. O sol já brilhava intensamente, e estava calor. A chegada foi impactante. Descer do avião, seguir o fluxo de pessoas até chegar a um hall com uma imensidão de gente na fila. De todas as origens. Várias filas de homens que estavam aí para imigrar. Paquistaneses, filipinos, indianos, uma profusão de origens. Em comum, o mesmo aspecto de semi esfomeados, pareciam ratinhos à procura de comida, esperando pacientemente em infindáveis filas. Entrei numa fila onde havia pessoas de origem europeia. Comecei a esperar, pacientemente. O processo é demorado, moroso, a fila não anda. Guardas e funcionários do aeroporto, com olhares prá lá de agressivos, gritavam, comandavam, reorganizavam as filas. Me senti no meio de uma boiada. Respeito que é bom, nenhum. Educação, também não. De repente, abre um novo guichê e um guarda me chama. Que sorte. Passei à primeira da fila. Impressões digitais, checagem do passaporte, que interessou muito o funcionário que olhou pacientemente todas as páginas, e enfim liberação. Sem troca de uma palavra, e sem um olhar direto. Fui para a esteira de retirada da bagagem. Quebrada. De novo, gritos para tudo que é lado - como os sauditas, ou seja lá de que origem os funcionários são, gritam. Parece que vão digladiar-se por palavras. E a esteira aí, quieta, imóvel, impassível. Depois de meia hora, um funcionário resolve descer e pegar duas malas. Ficou nisso. Sorte de quem eram as malas. A espera continua. Os gritos também. Quando é que vão resolver esta situação? Espero pacientemente, assim como todos os outros passageiros. Finalmente, um funcionário toma uma atitude e dá a ordem de transferir a bagagem para a esteira do lado, que funciona. A partir daí, foi rápido. Minhas malas chegaram logo, e pude sair daquele inferno de cheiros e gritos. Do lado de fora, meu filho já me esperava. Alegria do reencontro. Saímos do aeroporto e atravessamos a cidade. Primeira impressão: misto de construções pequenas, cor ocre ou terracota, com prédios imponentes. As cores se misturam com a cor da terra, que é de um amarelado meio ocre. Areia batida, misturada com pedras. Tudo muito seco, inóspito. Grandes avenidas. Muitos carros. Carros grandes, em sua maioria. Em Rhiyahd não há um sistema de transporte público. Há vans circulando, e só. Carros são baratos, e o combustível é quase de graça. Afinal, a Arábia Saudita é o maior produtor de petróleo do mundo.













Passamos pela parte antiga de Rhiyahd, onde há um sítio arqueológico. Me senti transportada para um cenário bíblico.























Atravessamos a região, e finalmente chegamos no compound onde meu filho reside com a família, praticamente no deserto. A entrada é chocante. Dois controles, abrem o capô do carro, checam a parte de baixo com um espelho, e é necessário passar por uma infinidade de chicanas, antes de chegar no portão principal, onde há uma torre com polícia munida de metralhadora. Os muros que circundam o compound são imensos, filmadoras por tudo que é lado, e ainda arame farpado em rolo. Não deixa de ser um tipo de prisão...




O compound no qual meu filho e família residem é composto de 165 casas de 1,2 ou 3 quartos, para famílias cujos maridos trabalham na empresa na qual meu filho também trabalha. É um compound silencioso, há poucas crianças, praticamente não há pessoas circulando nas ruas. Os maridos saem para o trabalho de manhã, as mulheres ficam em casa. Há uma área de lazer muito boa, mas pouco utilizada. Alguns casais se visitam, festejam juntos os aniversários. As poucas crianças em idade escolar vão a escolas internacionais, e é o motorista do compound que as leva às escolas. Há motoristas a disposição das mulheres, e toda semana tem uma programação de saída, uma de manhã, uma à tarde, e entre ir e vir leva três horas. É possível, assim, que as mulheres vão ao supermercado, ao mercado, ao shopping. Basicamente é isto que é possível para a mulher fazer. Quando vai ao médico, pega um taxi de confiança, registrado no compound, e combina com o motorista o retorno. Mulheres podem circular sozinhas, mas nunca em companhia de homens que não sejam da família. Nunca as mulheres podem sair do compound sem estar devidamente vestidas com a abaya. Mulheres estrangeiras não tem autorização para trabalhar, a não ser que tenham autorização especial, para trabalhar, por exemplo, nas escolas internacionais. As mulheres procuram fazer amizades, se encontram em shoppings, ou nas residências de umas ou outras. A vida para as mulheres é solitária, encerradas em lindos compounds, cercadas por altos muros por todos os lados. No compound há um restaurante e um mercado. É possível enviar roupa para a lavanderia.


As casas são mobiliadas e confortáveis . Tem ar condicionado em todos os cômodos. Não há área de serviço. A máquina de lavar roupa fica na cozinha.















Em Rhiyahd há uma universidade para mulheres. As mulheres podem estudar, mas não podem dirigir carro. Recentemente foram liberados alguns trabalhos possíveis de serem realizados por mulheres, como por exemplo ser vendedora em loja de roupas íntimas.

A vida das pessoas é regida pelas rezas, que acontecem cinco vezes por dia, de 2,5 em 2,5 horas. Cada reza dura de 30 a 40 minutos. Durante as rezas, todas as lojas fecham. As pessoas que estão dentro das lojas tem que permanecer nelas, que estão com os portões fechados, até a reza terminar. Não há atendimento durante as rezas. Nem nos restaurantes. Você simplesmente fica esperando sentado até ser atendido novamente.

A Arábia Saudita existe como país há cerca de 80 anos. Antes disso, haviam grupos constituídos como os xiitas, sunitas e muitos outros grupos menores. O povo saudita é regido por um rei. A família real é sunita. Os xiitas e sunitas são os maiores grupos, e não se misturam. Antes de se tornar um país, as pessoas eram em boa parte beduínas. Em pouquíssimo tempo o povo teve que passar por um desenvolvimento intenso, de beduínos para a pós modernidade. Isto não se faz num piscar de olhos. A cultura antiga está muito enraizada, como por exemplo o isolamento das mulheres, o que se constata nas casas de família que,mesmo quando não pertencentes a um condomínio são protegidas por altos muros, apesar da violência ser reduzida. O casamento múltiplo também é praxe para sauditas abastados.


































Quando fomos a um brunch em um dos hotéis da cidade, encontramos com uma família tipicamente saudita abastada. O homem veio com a mãe, três esposas e oito filhos, dos quais 2 eram do sexo masculino, que na família saudita são tratados feito reizinhos. Harmoniosamente a família participou do brunch, as mulheres conversando entre si, as crianças divertindo-se. As meninas estavam vestidas com abaya mas sem véu, o menino mais velho com túnica branca mas sem cobertura de cabeça. As mulheres estavam com véu, mas sem o kijab que cobre o rosto. Era visível que várias delas já tinham feito plástica de nariz, que é um procedimento recorrente em famílias abastadas.
O fim de semana na Arábia Saudita inicia na sexta-feira, que é um dia santo. E sábado é sábado. O domingo é um dia normal de trabalho.

Nos fins de semana observam-se incontáveis famílias fazendo piquenique em espaços abertos, no deserto, em calçadas, em praças. As famílias reúnem-se, comem e bebem, ficam sentados em tapetes em torno de uma fogueirinha. E largam todo o lixo para trás, que no dia seguinte é recolhido pelos lixeiros, com exceção do deserto, que é salpicado de garrafas plásticas, plásticos diversos, restos de comida, outros lixos. E ninguém parece se incomodar.

Para os estrangeiros que trabalham por contrato em companhias estrangeiras, as mais diferentes embaixadas realizam grandes festas que sempre são muito esperadas. São festas pagas.
O custo de vida é alto na Arábia Saudita. Praticamente toda comida tem que ser importada , e é muito cara. Difícil achar verdura, legumes e frutas de boa qualidade. Há todo tipo de carne, menos o de porco, que é proibido. Mas a carne é cara.

O clima é extremamente seco. A água para consumo familiar e industrial é adquirida em sua maior parte pela dessanilização, mas também há fontes, e a água é misturada. Não é adequada para ser bebida. Chove muito pouco na Arábia Saudita. Mas eu tive a sorte de presenciar dois dias de chuva, que inundaram a cidade e inviabilizaram o tráfego em alguns bairros. É impressionante observar a inundação . A água sobe muito rápido, e não escoa. A areia é muito dura, não deixa a água penetrar.








Parti sob chuva forte. As malas foram levadas ao avião em carrinhos abertos, certamente molharam muito.

No compound fazia caminhada todos os dias. Uma hora pela manhã, outra pela tarde, sempre ao longo do imenso e longo muro, com. Inúmeras câmeras registrando cada um dos meus passos.

Tentei sentir a energia e o astral do lugar, não especificamente do compound, mas da área toda. Durante a semana toda senti o ar pesado, parecia comprimir a alma. Muito sensível, me senti um pouco atordoada. Deve ser a história deste lugar, palco de muitas lutas e lutas constantes, palco de terrorismo (a Arábia Saudita vive um período de calmaria). É um contra-senso. Há pouca violência, mas a violência espreita por todos os lados.






















Já viajei muitas vezes a desertos, e gosto muito. Sempre sinto uma quietude grande. Diferente foi desta vez. O deserto no entorno de Rhiyahd provocou, de certa forma inquietude, sentimento de insegurança , atordoamento, sensação de estar presa nesta imensidão, de vez em quando arrepios a perpassar o corpo...
Enfim..., foi uma experiência nova, diferente das já vividas.

Início do retorno ao Brasil. O horário do voo: 2:30 da madrugada. Meu filho me levou ao aeroporto, me acompanhou pelos trâmites, o que foi muito bom, pois mais uma vez, senti os funcionários agressivos. Longas filas, provavelmente de imigrantes ilegais, que estão sendo compelidos a abandonar o país. Em vez de malas, caixas de papelão, que provavelmente com a chuva que caiu devem ter sofrido um bocado. Finalmente conseguimos fazer o check in , e meu filho ainda me acompanhou até a polícia federal. Foi rápido, passei pela cabine só para mulheres para passar pela vistoria, e dirigi-me ao portão de embarque.

O voo até Istambul foi tenebroso. O avião tremelicava todo, parecia querer despedaçar em 1000 pedaços. Nunca presenciei tamanha turbulência. Foi uma noite e tanto.

Cheguei em Istambul às 6:30 da manhã e ainda estava escuro. Tomei café da manhã no aeroporto, andei um pouco pelo duty freeshop, procurei um lugar para sentar, o que neste aeroporto abarrotado de gente sempre é uma façanha. As três horas de espera passaram até que relativamente rápido, e fui a primeira a embarcar no vôo para São Paulo. O embarque foi rápido, mas esperamos quase uma hora na pista antes de decolar.
O avião lotado, algumas turbulências pelo caminho, mas nada que se aproxime do horror do vôo anterior. No vôo de Rhiyahd para Istambul, as pessoas mantiveram-se muito calmas. Por isso presumo que a agitação em pleno vôo seja algo que aconteça com frequência.


Pensando sobre os 12 dias na Arábia Saudita, chego à conclusão que o país ainda tem um longo trajeto pela frente para aproximar a pós modernidade a hábitos e cultura, a tradições seculares. Alguém da família real certa vez comentou que era preciso ir devagar na abertura do país ao mundo. O choque é muito grande, e as pessoas não suportariam ver suas tradições irem ‘areia’ abaixo. Certamente há tradições que precisam ser respeitadas e mantidas, outras necessitam de mudanças. A questão da mulher na Arábia Saudita, por exemplo, está profundamente arraigada na cultura saudita. Ainda é inimaginável o direito das mulheres de se locomover livremente, de escolher o que queiram vestir, de optar ou não por engravidar, de participar ativamente da sociedade saudita. Ainda é inimaginável que homens e mulheres se olhem, se comuniquem sem que isto seja visto como uma grave transgressão.
Para mim, mais do que a obrigatoriedade de usar a abaya foi difícil manter sempre os olhos baixos, não cruzar o olhar com representante do sexo masculino. O olhar dos homens é errante, não fixam o olhar. Eu por exemplo me senti como se não existisse, como se fosse transparente ou invisível. Difícil também foi a sensação de estar presa, de não poder sair do compound, por exemplo, para dar uma volta nos arredores.

Sem dúvida nenhuma, está foi a viagem mais impactante e surreal que já fiz e sou muito grata por ter tudo esta inusitada oportunidade de dar uma olhado há atrás do véu que cobre a Arábia Saudita.