02/01 – de Lima a Chala – até Nazca já conhecia o trajeto.
Lugares muito ermos. Ora trafegava no deserto, ora margeava o Oceano Pacífico. Subi numa torre para ver alguns desenhos das conhecidas Linhas
de Nazca. Durante o trajeto até Chala, parei várias vezes para tirar fotos
pois, apesar de ser uma região muito inóspita, tem uma beleza muito especial. No final
da tarde cheguei em Chala.
04/01 – de Chala a
Takna. Como em todos
os outros dias, saí cedo. Queria tirar algumas fotos do mar e das ondas batendo
nas pedras mas doce ilusão – a neblina estava tão densa que não dava prá
enxergar nada. Este é um trajeto que vai
ao longo da costa. A região é extremamente erma. Não cresce nenhum arbusto
sequer. Pelo litoral fui até Camaña,
depois entrei em direção ao interior, +- uns 100km, depois retornei à costa e
peguei uma estrada bem nova chamada Costañera. No litoral havia pequenas
comunidades que vivem da coleta e processamento de algas. Cheguei em Takna no
final da tarde. Takna é uma cidade maior, próxima à fronteira com o Chile. No
posto me informei acerca de um bom hotel e me hospedei no Grande Hotel Takna.
Este hotel também constava do GPS. Quando cheguei no hotel já havia algumas
motos com identificação brasileira. No hotel havia dois grupos de brasileiros.
Conheci um dos grupos, que veio de Telêmaco Borba.
05/01 – de Takna a
Calama. Fiz as
formalidades para entrar no Chile e deixei o Peru. Estes trâmites demoraram +-
1h20min. Mais um dia de paisagens inóspitas mas belas. Andei o tempo todo pela
Carretera Panamericana, bastante trafegada. É uma das regiões mais desérticas.
Praticamente não se vê pessoas. É uma região extremamente seca. O dia estava
bonito. Entrei em Chuquicamata para dar uma olhada. A população toda foi
deslocada. Há bem menos gente trabalhando nas novas minas. Cheguei em Calama ainda
dia claro. Estava frio, e uma leve garoazinha. Fiquei na Hosteria Calama, uma
dos melhores da cidade.
12.Dia: 06/01 – de Calama até Chañaral. Fui
primeiro a San Pedro de Atacama com a intenção de cruzar o paso Jama. Em San
Pedro encontrei um grupo de brasileiros na porta do hotel que estavam se
preparando para viajar. Perguntei pela situação do passo, e me disseram que
estava fechada em função de intensas nevascas, com chance de abrir. Fomos
juntos até a aduana, onde encontramos muita gente na mesma situação que nós, e
todos sem chance de atravessar os Andes. Aguardamos a liberação por algum
tempo. A gendarmeria, entretanto, não deu sinal verde. Inicialmente nos
enrolaram pois, de tempos em tempos, diziam que iam abrir o passo, mas qual
nada. Quando até às 15 horas não abriram o passo e as nuvens ficando cada vez
mais escuras, resolvi continuar viagem e descer até Chañaral. Foi uma viagem
longa e cansativa. Cheguei tarde em
Chañaral, por volta das 21.30 da noite.
13. Dia: 07/01 – de Chañaral até o Paso de San Fransisco. De
manhã cedo, quando levanto para tomar café, encontro um grupo que já havia
encontrado anteriormente, proveniente de Jaú. Nos despedimos, pois o grupo de
Jaú decidiu seguir para Santiago e cruzar os Andes no principal passo do Chile,
no Serro das Cuevas (Paso Del Vermejo). Eu, então, abasteci a moto e segui em
direção ao Paso San Fransisco. O dia estava belíssimo, sem nuvens. De Chañaral
até o Paso são 320km. Chegando no Paso,
conheci um novo grupo do Brasil, coordenado pelo Zaqueu. Entrei na
aduana e me informei acerca da situação. Me informaram que o paso estava
fechado em função do Rally Dakar. Mas falaram que iriam ver se dava prá abrir o
paso mais tarde. Tirei fotos do pessoal do Dakar, conversa com um, conversa com
outro e, depois de algumas horas, resolvi retornar à aduana para passar para a
Argentina. Conversei com o pessoal da Aduana, que então me informou que naquele
dia ninguém passaria pelo Paso, pois existia um decreto governamental que
proibia a passagem pelo Paso naquele dia em função do Rally Dakar. A passagem
estava somente liberada para quem vinha da Argentina e o tráfego
Chile-Argentina estaria liberado somente no dia seguinte. O que fazer? Estava a
320 km da cidade mais próxima (Chañaral), e não estava disposto a encarar
novamente esta viagem. Tentei sensibilizar os carabiñeros para me deixar
passar, conversei com um, conversei com outro – mas não teve jeito – foram
irredutíveis. A conclusão é que pernoitaria lá em cima, junto à aduana, e
tratei de me instalar num dos contêineres que havia, próximo da aduana,
reservada a mineiros. Assim como eu, mais ou menos 20 pessoas tomaram a mesma
decisão. No complexo da própria aduana mais ou menos 15 pessoas se instalaram,
fora um motorhome que também esperava, com mais ou menos 6 pessoas. As
instalações eram precárias, muito bagunçadas – havia panelas com restos de
comida, a cozinha estava molhada por conta das chuvas fortes nos dias
anteriores. O jantar foi um mixto de resto de comida apreendida pelos
carabiñeros dos que vieram da Argentina e, antes que os carabiñeros se dessem
conta e tirassem a comida da gente, dividimos o que havia e jantamos. Tinha de
tudo: frutas, pão, queijo, presunto, tomate. Havia até carne de churrasco crua,
que deixamos prá lá. O contêiner estava seco, mas não havia aquecimento. O dia
terminou, e o frio baixou. Colocamos os colchões em cima de estrados de madeira
para proteger um pouco do frio. NO avançar da noite, o frio avançava
impiedosamente. Acho que nunca senti tanto frio na minha vida. Foi uma noite realmente tenebrosa, e demorou
prá passar. Levantei às 2 da madrugada e coloquei as botas, porque meus pés
estavam muito frios e, consequentemente, sentia frio pelo corpo inteiro. Fiquei
com as botas até o raiar da manhã. Não era confortável, mas pelo menos não
sentia tanto frio.
14. Dia: 08/01 – de Paso de San Fransisco até Catamarca. Ao
acordar, preparei um chá e comi uma maçã. Chá tinha à vontade, também havia
sopas Maggy, mas que eu não tomei. Tratei da documentação de saída do Chile. O
funcionário da imigração era extremamente lerdo – era como se tivesse duas mãos
esquerdas. Mais ou menos às 8.30 finalmente estava pronto para ligar o motor e
partir. Saí na frente, o grupo do Zaqueu
seguiram depois. Da aduana do Chile até a aduana Argentina são 140 km, rodando
nos Andes, +- 4500 m de altitude. Estava um dia muito bonito, com temperatura
por volta dos 8 graus. Paisagens deslumbrantes. Parei em um lago para tirar
fotos, assim como os outros brasileiros que se juntaram a mim. Na aduana argentina o processo foi bem mais
rápido do que no Chile. O grupo se reencontrou na aduana argentina. Fui o
primeiro a ser liberado, e segui viagem. Pretendia chegar cedo em Catamarca,
porque meu pneu estava + do que gasto e precisava urgentemente comprar um pneu
novo. Com um pouco de sorte, conseguiria um pneu mesmo sendo sábado. Em
Tinogasta procurei pneu mas sem sucesso. Segui então Catamarca, que é a capital
do estado. Fui numa loja de lubrificantes, conversei com o dono, e este
conhecia o dono de uma loja de repuestos de uma moto, e foi onde consegui um
pneu que foi um tremendo quebra galho. Como já era final de tarde, decidi ficar
em Catamarca. De noite fui numa churrascaria e comi uma parrilada. Foi a
primeira carne que comi desde o réveillon, acompanhada de uma cerveja Quilmes.
O calor era sufocante, beirou os 40 graus.
15. Dia: 09/01 – de Catamarca até Corrientes. Apesar do pneu bastante comprometido, decidi
trocar o pneu somente em Santiago Del Estero, para evitar sofrer um acidente
por rompimento do pneu. Esta decisão foi mais do que acertada pois, quando
desmontamos o pneu, constatamos que estava muito, mas muito mesmo comprometido.
Não teria agüentado mais nada. A temperatura oscilava entre 40 e 41 graus.
Segui viagem em direção a Corrientes. Neste percurso passei por Suncho Coral,
onde peguei um trecho de estrada extremamente ruim. A pista eram placas de concreto, da largura
de apenas um veículo, e sempre quando vinha veículo no sentido contrário tinha
que sair da pista para o acostamento. Toda vez que voltava à pista tinha que
subir um degrau formado entre a placa de concreto e o acostamento.
Provavelmente por isso a câmera sofreu impacto forte e acabou rompendo. Tive
que parar para trocar a câmera. Isto por volta das 14 horas, com um sol
simplesmente escaldante, a uma temperatura de 41 graus. Foi um sufoco e tanto.
Levei +- 50 minutos entre a parada e o reinício da viagem. Estava literalmente
exausto. Cheguei em Corrientes por volta das 20h30, fui para um hotel chamado
Hotel Del Parque, tomei um banho e fui comer um Milanesa com farta salada de tomate e cebola num
‘comedoro’ que havia na rotatória da cidade. Bebi Budweiser, porque não havia
Quilmes. A opção era Brahma ou Budweiser.
16. Dia: 10/01 – de Corrientes até Candói (Paraná). De Corrientes fui a Posadas.
Fiz um pit stop no supermercado Libertá para comprar alguns chouriços, assim
como o Sal Los Anclas, que é muito apreciado pela minha família. Também comprei
duas garrafas de vinho. Comprei ainda algumas frutas para o meu almoço. Em seguida, peguei a estrada em direção a
Eldorado, onde há a bifurcação que sai em direção ao passo Bernardo de Irigóia,
que fica na divisa. Fiz os trâmites de imigração. Havia umas oito pessoas na
minha frente. Passei a fronteira e tomei a estrada em direção a Pato Branco. Me
informei num posto sobre uma cidade próxima com hotéis e me indicaram a cidade
de CAndói, cerca de 45 km de Pato Branco como uma boa opção. Cheguei em Candói
por volta das 22 horas, me instalei no hotel . Comi uma maçã acompanhada de uma Skol e fui dormir.
17. Dia: 11/01 – de Candói a São Paulo. Último dia de viagem.
Saí às 8 da manhã em direção a Curitiba. O tempo estava encoberto, porém não
chovia. Na região de Registro caíram algumas gotas. A chuva foi intensificando
e, na altura de Juquitiba, parei e vesti a proteção de chuva porque a situação
começou a engrossar, literalmente. No
trajeto até São Paulo o tempo variava entre uma chuva forte e garoa. Chegando
na altura de Embu das Artes, instalou-se o caos na Estrada Regis Bittencourt em
função de transbordamento de córregos que travaram todo trânsito de acesso a
São Paulo. Como estava com o GPS, procurei uma alternativa por áreas para mim
desconhecidas e acabei saindo na Estrada do Campo Limpo e daí até em casa foi
tranqüilo, já que conhecia esta rota. Pretendia chegar em casa às 16.30, mas
acabei chegando às 18h30. Totalmente encharcado!Exausto, mas aliviado de ter
concluído bem esta intensa e longa viagem. O total percorrido nestes 16 dias (+
um de descanso – dia 01/01/12 em Lima) foi de 12430 km. Isto dá uma média de 780 km por dia.