25/12 - De São Paulo a Mineiros. Às 5.20 cruzei o portão da
minha casa com a minha moto KTM990 adventure para dar início à Expedição
Peru, Chile e Argentina. Fui pela Estrada dos Bandeirantes, e
peguei a Anhangüera próximo a Piracicaba. O primeiro abastecimento foi em
Uberaba, graças ao meu tanque de combustível novo, que me dá uma autonomia
de mais de 600 quilômetros. Prossegui viagem até Lagoa Bauzinho, distrito
de Rio Verde (Goiás) onde fiz o segundo abastecimento. No posto perguntei
por uma cidade que tivesse um hotel razoável, e me recomendaram a cidade
de Mineiros. Até Mineiros foram 1179km. Fiquei no hotel Pilões Palace
Hotel . Neste primeiro dia, o tempo
estava bom e bastante quente. Não peguei chuva durante o trajeto.
26/12 - De Mineiros
(Goiás) a Campo Novo dos Parecis (Mato Grosso). Levantei por volta das
6.30 para poder sair cedo e aproveitar o dia claro. De Mineiros sai em
direção a Cuiabá, passando por Rondonópolis. Na serra antes de chegar em
Cuiabá aconteceu um pequeno incidente: como o trânsito estava lento em
função de uma máquina aparadora de grama ao longo da rodovia (na descida
da serra) resolvi levantar a frente do capacete para ventilar um pouco o
rosto porque estava muito,muito abafado. Eu estava em movimento, e
justamente levantei a frente ao chegar próximo do trator. Segundos depois,
vi uma pedra vindo em minha direção, ejetada pela faca de corte do trator.
A pedra atingiu o meu rosto imediatamente abaixo do olho direito. Tive
sorte no azar, pois a pedra não atingiu meu globo ocular. Após o impacto,
tentei abrir o olho, e vi que estava enxergando com ângulos. A região
estava bastante dolorida. Dirigi alguns quilômetros com sacrifício, a dor
foi aumentando e a vista ficando cada vez mais congestionada. Decidi,
então, para evitar um acidente, parar num bar de posto para fazer uma
compressa de gelo. O tempo de repouso e recuperação foi de mais ou menos
uma hora e meia. Me arrisquei, então, a voltar à estrada para dar
continuidade à viagem. Resolvi comprar um capacete novo com viseira de
melhor qualidade na próxima cidade, Cuiabá. Comprei o capacete numa revenda Honda
e abasteci a moto. Sempre usei o óculos escuro, em toda a viagem, para
evitar sensibilidade da vista, o que se mostrou uma decisão acertada. De
Cuiabá fiz o mesmo trajeto que já havia feito de camionete, no ano
passado, passando por Tangará da Serra.
Cheguei em Campo Novo do Parecis (Mato Grosso) no final de tarde. O
tempo neste dia também estava bom mas estava muito quente e abafado. Fiquei
no hotel Marion Palace.
27/12 - De Campo Novo do
Parecis (Mato Grosso) até Porto Velho (Rondônia). Saí novamente cedo,
porque neste dia o objetivo era chegar em Porto Velho, portanto um longo
trajeto. Segui a estrada e passei por Vilhena, Cacoal, Ji-Paraná, Ariquenes
até Porto Velho. Também não choveu neste dia, mas estava muito quente e
abafado. Cheguei ainda dia claro e
procurei um hotel. Fiquei no Hotel Rondon, que fica 8 quilômetros fora do
centro. Há vários hotéis em
Rondônia, todos eles muito caros, em função da construção das duas
hidrelétricas.
28/12 - de Porto Velho (Rondônia) a Assis Brasil (Acre). Na manhã do dia seguinte,
resolvi primeiro dar umas voltas em Porto Velho. Queria ver o Rio Madeira
e o respectivo porto, em função das chuvas. Fiquei surpreso com uma ponte
nova que está sendo construída sobre o rio Madeira. Depois prossegui
viagem, rumo a Rio Branco. Passei com a balsa entre Porto Velho e Rio
Branco. Dois carros ainda subiram na balsa depois de mim. Segui viagem. Um
calor sufocante. Desta vez, a paisagem muito diferente, pois não havia
queimadas. Por volta das 13 horas, queria fazer um lanche. Vi uma
bifurcação: à direita Rio Branco e à esquerda Assis Brasil. Tomei um
refrigerante, comprei duas maçãs. Havia vários grupos sentados no bar.
Puxando conversa aqui e ali, um sujeito me falou que não deveria entrar
para Rio Branco pois, no caminho para Assis Brasil, há um posto Shell para
abastecimento. Dito e feito. Segui o caminho para Assis Brasil e abasteci
neste posto. Estava muito, muito quente.
Em Assis Brasil fiquei na melhor pousada (Pousada Renascer).
29/12 - de Assis
Brasil a Cuzco.
Tomei café tranqüilo, pois a alfândega somente abre às 8 horas. Fiz os trâmites para entrar no Peru (imigração
e alfândega). Este processo sempre é muito complicado e burocrático.
Converti reais em soles peruanos. Segui viagem. Quando cheguei a Triunfo,
vi que a ponte para Puerto Maldonado já era trafegada. Assim é muito mais
rápido e fácil do que pegar balsa para atravessar o rio Madre de Dios.
Continuei e comecei a subida dos Andes depois de Mazuco, onde abasteci. A
paisagem é diferente da que eu encontrei no ano passado. Havia
pouquíssimos picos com neve, havia uma gramínia rala nas encostas, nenhum riacho
estava congelado. A subida é lenta, em função das muitas curvas. Toda a
estrada está asfaltada. Fez muito frio lá em cima. A subida foi cansativa.
Não choveu, mas o frio estava demais. Não estava preparado para tanto
frio, e cheguei em Cuzco com uma leve hipotermia. Em Cuzco cheguei no
início da noite, e fiquei num hotel logo na entrada da cidade, o hotel
Marcelino. Cuzco estava um caos. Muito trânsito, muita poeira, a avenida
principal em obras. Também estava muito frio. Primeiro descansei por um tempo,
para me recuperar, e depois pedi referência de um restaurante. Peguei um
táxi e fui jantar. Deixei a moto no hall do hotel. Quando retornei ao
hotel, me dei conta que o quarto era muito barulhento, pois havia uma
festa de casamento em frente ao meu quarto. Foi insuportável. Pedi para
trocar de quarto, pois assim não iria dormir. O novo quarto era mais
silencioso, e consegui dormir. Levantei 5.30 e retornei ao quarto antigo,
porque lá estava minha roupa.
30/12 - de Cuzco a Nazca. Mais um longo trajeto nos Andes me
esperava, com muitas curvas, muito frio. Inicialmente o tempo estava bom,
mas isto infelizmente não durou muito. Peguei chuva, muita chuva, e a
viagem tornou-se desagradável. Avancei lentamente. De Cuzco fui Abancay.
Um trecho de 190 km, para o qual levei 3 horas. Um trecho extremamente
sinuoso e perigoso. O deslocamento de Abancay foi sobre um altiplano,
variando de 4 mil a 2 mil metros. Antes de chegar a Nazca, passei por um
passo a 4700 metros de altitude. Um frio estonteante. Choveu granizo.
Neblina intensa. Anoiteceu. Uma combinação deveras complicada. A descida
de Abancay a Nazca é uma das dez estradas mais perigosas da América do
Sul. Uma curva emendava na outra, em meio a paredões. Não pude fazer
registro fotográfico neste dia, pois tive que usar toda minha atenção para
fazer o trajeto. É um trajeto de 50 km, mas levei duas horas. Fiquei
exausto. Cheguei em Nazca extremamente cansado e exaurido.
31/12 - de Nazca
a Lima. Neste
dia, tudo foi festa. Praticamente um retão entre deserto, aqui e ali uma
plantação, mas havia muito tráfego. Não havia mais chuva, estava quente.
Cheguei em Lima às 14 horas. Beate não estava no hotel, tinha dado uma
volta pq estava muito tensa e angustiada pelo fato de não ter aparecido
ainda. Ela havia me aguardado desde 6. Feira (isto foi um mal entendido)
e, como neste dia foi a única vez que enviei mensagem pelo telefone para
Karin (que ela não recebeu), as duas ficaram 22 horas sem notícias minhas,
o que as deixou à beira de um colapso nervoso. Até a polícia acionaram que
fez uma varredura pela estrada dos Andes para verificar se tinha havido um
acidente. Comunicaram à Beate que não havia acidente nenhum, o que a
deixou um pouco mais calma mas ainda intranqüila. Eu fiz os dois dias de trajeto entre Cuzco e Lima sem imaginar o sufoco, a angústia e o desespero das duas. Fiquei espantado quando cheguei no hotel e todos que me encontravam falavam aliviados: 'que bom que o sr. chegou!' 'Está com cara boa!' 'Sua esposa estava muito preocupada!' 'Nem parece tão cansado assim !' etc.etc.etc. O alívio da Beate de me ver no
hotel foi igual à felicidade de me encontrar. Passamos o réveillon juntos,
com uma ceia de réveillon, no próprio hotel.Claro que estava cansado. Mas também estava feliz por ter cumprido o primeiro trajeto sem grandes problemas e conforme cronograma pré-estabelecido. De vez em quando os trajetos foram muito difíceis, e eu os encarava como uma espécie de 'missão militar' para poder concluí-los.
O relato em relação ao dia 1. de janeiro pode ser lido no registro que Beate fez de sua viagem. Somente postarei algumas fotos deste dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário