No olho da história atual paraense
Quando resolvemos passar um fim de semana prolongado em Belém não nos ocorreu que justamente neste fim de semana haveria o histórico plebiscito para decidir se o Pará se subdivide ou não em três estados. Quando o descobrimos, não achamos ruim pois, afinal, estaríamos presenciando in loco este momento tão importante e decisivo para os paraenses.
Vê-se muita propaganda do ‘não é não’, ou seja, contra a divisão em três estados. Também no rádio escuta-se muitas vozes contrárias. Realmente estou curiosa para ver este desfecho, pois a impressão que dá aqui em Belém é que as pessoas não querem a divisão, mas isto pode ser realmente mera impressão. Os resultados é que o dirão.
9 de dezembro
Saímos cedo de casa rumo ao aeroporto. Fizemos o check in rapidamente, e nos dirigimos ao local de embarque sem demora. O vôo se atrasou quase uma hora, o que nos deixou bem preocupados, pois havia pouco tempo disponível entre um vôo e outro. Mas deu tudo certo. O primeiro piloto quase que recuperou o tempo perdido, e tínhamos quase meia hora para ir de um portão de embarque para o outro. Nos dois vôos , conseguimos um lugar na emergência, o que para as nossas pernas compridas é um alívio.
Lagoa Paranoá, em Brasília
Chegando em Belém
Não há lanche nos dois vôos da Gol. Há um biscoitinho salgado, o pacote com 100 calorias, mas achei super gorduroso. E é claro, não resolve a fome. Assim que chegamos em Belém, pegamos nosso carro alugado e fomos diretamente à Estação das Docas. O caminho até lá é arejado e limpo, há muitas mangueiras e muito verde. Muito trânsito. Como há trânsito nesta cidade. Muitas ruas são estreitas, Belém cresceu muito nos últimos anos e a infra-estrutura não acompanhou. Há algumas largas avenidas, bem arborizadas, mas sempre lotadas de carros. É um trânsito sem fim, a qualquer hora do dia e até à noite.
Demoramos muito a chegar na Estação das Docas, o estômago já estava no chinelo... Mas que surpresa agradável. A Estação das Docas é toda envidraçada, há uma feira de artesanato, há uma espécie de shopping, há vários restaurantes, há uma cervejaria. Pode-se sentar dentro ou fora, à margem do Rio Guararás. É um lugar lindo, cheio de charme, parece uma pequena Puerto Madero (Buenos Aires). Almoçamos no ‘Lá em Casa’, uma comida deliciosa, o peixe filhote e a pescada amarela estavam simplesmente divinas.
Uma tigela de açaí
Depois de aplacarmos a fome e curtirmos o lugar, decidimos procurar o hotel. Esta não foi uma tarefa fácil. Os mapas são pouco elucidativos, e o GPS não ajudou, porque a rua do hotel Tulip Inn (Rua Presidente Pernambuco) simplesmente não constava. Perguntar a transeuntes também se mostrou inócuo – falavam que havia somente uma avenida Presidente, a Vargas, e Presidente Pernambuco não existia. Bom, procuramos muito, e usando da nossa capacidade dedutiva (havia uma Travessa Ponte Pernambuco indicada no mapa), finalmente chegamos à dita cuja que era, de fato, a tal da Presidente Pernambuco. O hotel é clean, moderno, basicamente para homens de negócios.
Deixamos nossa bagagem, colocamos roupa mais arejada ( o calor aqui é sufocante – no verdadeiro sentido da palavra), pegamos o carro e começamos a rodar pela cidade. Passamos por várias igrejas, museus, muitas praças e, finalmente, chegamos à Casa das Onze Janelas e ao forte. Estacionamos o carro e fomos andar a pé. Este é um canto da cidade muito bonito, restaurado, e a luminosidade de final da tarde era especial. Andamos bastante, visitamos o museu do Presépio, por sinal muito bem montado (dentro do Forte), depois sentamos num restaurante chamado Palafitas e , com uma cerveja e água, apreciamos o pôr do sol.
Fomos ao Mangal das Garças, mas desistimos de jantar lá e retornamos à Estação das Docas. Jantamos na cervejaria. Eu comi um palmito selvagem de metro – divino, e Ronald jantou Filhote com casca de amêndoa – muito bom também.
Choveu, mas logo parou. Refrescou um pouco. Retornamos ao hotel e fomos dormir – estávamos exaustos. O clima aqui deixa a gente meio jururu, de tão quente e abafado que é.
Choveu, mas logo parou. Refrescou um pouco. Retornamos ao hotel e fomos dormir – estávamos exaustos. O clima aqui deixa a gente meio jururu, de tão quente e abafado que é.
10 de dezembro
Levantamos às 8 horas, tomamos café e decidimos ir à Ilha Mosqueiro. Levamos duas horas para fazer 16 km, pois uma enorme carreta tombou na estrada e ficamos num engarrafamento de literalmente 16 km de extensão. Haja paciência. Se não fosse o calor escaldante, nos sentiríamos em São Paulo. Depois de Benevides viramos à esquerda e, finalmente,pudemos desenvolver um pouco de velocidade, pois a estrada estava boa e com pouco trânsito. O caminho é rodeado por um pedaço de floresta amazônica. Para chegar à Ilha Mosqueiro, passa-se por uma ponte e aí as opções são várias.
Nós decidimos ir a Paraíso, onde almoçamos um nutritiva e saudável caldeirada de filhote. Depois do almoço, seguimos pela orla e circundamos, assim, um pedacinho da ilha. Há vários vilarejos, belas praias de água doce – chamam de mar de água doce. É bucólico, é bonito, há construções antigas aprazíveis – gostamos muito. Depois, retornamos a Belém. No sentido contrário, o mesmo engarrafamento da manhã – ninguém merece. Nós avançamos sem problemas. Decidimos parar no Jardim Botânico da Amazônia para refrescar, mas que ilusão.
Apesar de ser uma floresta quase densa, o calor é sufocante e abafado. Passeamos pelas alamedas, o suor escorrendo sofregamente pelo rosto. Decidimos ir ao hotel, tomar um banho e descansar, antes de sair novamente. Jantamos no Mangals das Garças. A comida estava realmente maravilhosa. Chegamos à conclusão que os belenenses apreciam uma boa cozinha, pois até agora as refeições foram excelentes.
11 de dezembro
Pela manhã, tomamos café e zarpamos rumo a Icoaraci, que fica a uns 14km de Belém. Hoje é dia do plebiscito. Em Belém, somente poucas pessoas nas ruas, travessas e avenidas mas, à medida que vamos avançando em direção à periferia, ‘enxames’ de pessoas nas ruas, velhos, moços, homens, mulheres e crianças, todos se encaminhando para os locais de votação.
Alguns carros com propaganda do ‘Não e não’. Pouco policiamento. Chegamos na orla de Icoaraci e decidimos pegar um barco para a ilha Cotijuba.
Apesar da moça do caixa informar que o barco sairia logo, ainda esperamos meia hora dentro dele até ele lotar. A travessia demora 40 minutos. As águas estavam relativamente calmas.
Do outro lado, andamos +- 2 km até a Praia do Farol. A praia é bonita, a água com temperatura gostosa, mas o barulho ensurdecedor de cada uma das cabanas de praia tira todo e qualquer prazer. Se a música fosse pelo menos a mesma. Mas, com caixas de som super possantes, cada cabana apresentava um estilo de músico: axé, funk, forró, MPB, samba, rock – havia de tudo. Era realmente ensurdecedor. Fomos até a última cabana, pelo menos não haveria uma cabana com música à direita.
Ronald foi nadar, e eu me submeti à música, tentando abstrair. Almoçamos lá mesmo, filé de filhote, que como sempre estava muito bom. Retornamos ao ponto das embarcações, não dava mais prá ficar num lugar tão barulhento. Pegamos o barco das duas horas. Desta vez, com o vento, havia bastante ondas e o barco balançou muito.
Ainda demos uma volta até retornarmos ao hotel para descansar. Aqui, com este calor quente e abafado, já se cansa fazendo um programa por dia.
12 de dezembro
Acordamos com a seguinte manchete:
66,08% optaram pelo 'não'. No meu entender, uma vitória expressiva. Depois do agito da noite anterior, com muita gente nas ruas e nas praças, com os olhos colados em TV's de bares e o ouvido em rádios, celulares, Iphones etc., a segunda amanheceu do jeito que amanhece todo dia, com gente correndo para o trabalho, para a escola, para as compras, e um trânsito infernal. Praticamente nada do que programamos para o dia deu certo. Primeiro fomos ao 'Ver-o-Peso. Conversamos com mtos comerciantes, ouvimos muitas explicações sobre frutas para nós desconhecidas, assim como sobre peixes. Perambulamos pela região, que é o que de mais antigo e característico tem em Belém. Decidimos então ir ao Mangal das Garças mais uma vez, para almoçar. Para nossa decepção, estava fechado. Decidimos conhecer o entorno mas, ao pedir uma indicação de caminho, o rapaz foi tão insistente que não fôssemos entrar pelas ruelas e vielas porque 'todos' os ladrões estavam soltos e perambulando pela região, desistimos do objetivo. Exageros a parte, fomos advertidos muitas vezes a respeito da violência nas ruas, o que fez com que circulássemos quase só de carro, o que realmente foi uma pena, porque uma cidade conhecesse andando a pé.
O que observamos é um grande investimento na orla , com avenidas largas e área de lazer, ainda em construção. Mas quande se sai deste ambiente, encontram-se casas caindo aos pedaços, pouca conservação e sujeira.
Resolvemos então ir à Estação das Docas mas, - doce ilusão! O trânsito estava tão infernal que demoramos muito, muito tempo para atravessar a cidade. Constatamos que teríamos que ficar sem um delicioso almoço e seguir diretamente para o aeroporto. Decisão mais do que acertada, pois foi o tempo de fazer check -in, que foi mto demorado, engolir um sanduíche e ir para o portão de embarque. A viagem foi tranquila, a chegada em Brasília também. O mesmo ocorreu no retorno de Brasília a São Paulo. O estômago estava no chinelo, pois na Gol só servem um salgadinho pingando de gordura , suco ou refrigerante e nadica mais. Foi um alívio pousar em São Paulo e saber que rapidamente estaríamos em casa para fazer uma refeição decente.
A viagem, entretanto, valeu. Vimos muito, tivemos muitas novas impressões, gostamos muito de Belém e da região, o povo é simpático e ajuda com informações onde pode. Pena haver tanto trânsito e tão pouco cuidado com a periferia. Os rios Guarará e Guamã são imponentes na sua largura e volume de água, as muitas ilhas são bonitas, há belas praias de água doce que valem a pena ser visitadas. Enfim, valeu!
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