terça-feira, 22 de março de 2016

Travessia do deserto, com uma chegadinha em Pasargada

Saímos às 8:30. O caminho hoje é longo, mais de 500 km. Visitamos vários sítios históricos durante o caminho. Atravessamos um dos desertos do Irã. Estava fresquinho e até frio, apesar do sol que parecia escaldante. Uma viagem interessante! 

A primeira parada foi em Pasargad. Era uma cidade da antiga Pérsia, atualmente um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, situado 87 quilómetros a nordeste de Persépolis. Foi a primeira capital da Pérsia Aqueménida, no tempo de Ciro II, e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império: Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes. É hoje um Patrimônio Mundial da Unesco.
Por ser desconhecida, geralmente é usada como sinônimo de refúgio distante. Local distante para não ser encontrado.


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
O que significa Pasárgada


É o próprio Bandeira quem explica:


“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...].

Em resumo, era um lugar sonhado... almejado e construído por Bandeira para transformar seus óbices em versos... Tanto é verdade que, quando queremos dizer que queremos ir para algum paraíso, ou que a vida está problemática,
citamos Bandeira... Muitas vezes tive vontade de ir-me para Passárgada... um dia ainda conseguirei ir...

Seguimos por montanhas, que chegam a 3500 metros, e iniciamos a travessia do deserto.




 


Em Abarkuh - que é um pequeno oasis no deserto - paramos, visitamos o Ice House, que é uma construção em adobe para coletar a água do gelo no inverno. Pasmem, mas aqui neva, no meio do deserto. É difícil de acreditar! 


Visitamos um cipreste com 4000 anos. Isto mesmo, 4000 anos. E está  frondoso e saudável.



Não foi possível ir ao Ali Dome, porque hoje é sexta-feira e somente está aberto para rezas. Fomos à cidade antiga, feita praticamente de adobe, e lá visitamos uma mansão da era Qajar, chamada Khan-e Aghazed. Muito linda!






 





Finalmente, visitamos o túmulo Godbad Ali, construído em 1506. 




Abarkkuh fez parte da rota da seda. 





Continuamos viagem pelo deserto, de areias brancas misturado com argila e uma espécie de saibro. Traspassamos mais uma cordilheira, e chegamos a Yazd, onde estamos numa gracinha de hotel, lotado em função do ano novo. 









 


Nenhum comentário:

Postar um comentário