sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Rotorua - a cidade com cheiro de pum...


Terceiro dia: de Auckland a Rotorua

Nas entranhas da montanha… um Urerlebnis - uma vivência que remete às origens

O dia nasceu lindo, o que me fez guardar o guarda-chuva na mala. No decorrer do dia, entretanto, me dei conta que na NZ é preciso contar com as quatro estações do ano por dia. tivemos frio, chuva, sol e calor, tudo deforma alternadamente, várias vezes por dia. No começo do dia foi tudo um pouco zoneado, sem a organização que pressupunhamos existir em todos os setores da sociedade neozelandeza. Primeiro o ônibus atrasou 20 minutos. Nos deixou num ponto de recolhimento, e tivemos que esperar mais uns 20 minutos por outro ônibus.
Ficamos mega atentos, porque em função do tamanho do Ronald, era imprescindível sentar na primeira fila. Deu tudo certo, mas ainda nāo partimos, porque o motorista era mega confuso. Finalmente conseguiu entregar o nosso lanche, pegar nosso voucher, e ocupamos nossos lugares.
Seguimos inicialmente pela autoestrada, e depois pegamos uma estrada secundária e passamos a trafegar numa estrada que corta fazendas e sítios, pequenos vilarejos, passamos por muitos cones vulcânicos, o que é uma atração a parte. Os campos muito verdes, muito férteis, o gado bem alimentado e gordo e um fundo musical dos anos 60 e 70 fizeram desta viagem um roteiro especial. Foi bucólico, foi lindo. Quase ao meio dia chegamos nas cavernas de Waitomo. Não tínhamos idéia do que vinha pela frente.
 A decoração das cavernas de Waitomo pode ser definida como minuciosa. Paredes, teto e chão exibem obras de valor inestimável, criadas ao longo dos milhões de anos de contato entre a água subterrânea e as camadas de calcário. As cavernas e grutas de Waitomo formam um trajeto ininterrupto de 45 quilômetros, uma maravilha só descoberta no fim do século 19.
Para ficar mais claro: é como se o parque de cavernas mais famoso do Brasil, o Petar, no Vale do Ribeira, tivesse uma filial na Nova Zelândia. A diferença, contudo, está na infra-estrutura. Ao contrário das estradas malconservadas que dão acesso ao parque brasileiro, o caminho que liga Auckland a Waitomo tem vias rápidas e bem sinalizadas. E, dessa forma, os turistas aparecem.
Além de belas formações, como estalactites e estalagmites, o visitante vê os glow worms, larvas minúsculas que usam a luminescência para atrair outros insetos e, assim, conseguir alimento. Pode parecer nojento, mas, na escuridão, os olhos humanos conseguem distinguir apenas pontinhos luminosos no teto das cavernas, formando um céu estrelado.
As modificações realizadas para simplificar a vida do turista deixariam qualquer guia do Petar estarrecido. No chão, estalagmites deram lugar a um piso antiderrapante. Há corrimãos em várias partes, assim como iluminação artificial - os fios foram disfarçados com ajuda de reboco. Descemos muitos lances de escadas. Fomos às profundezas da caverna. Tudo ficava cada vez mais escuro, até chegarmos à escuridão total. Demorou um pouco para o grupo ficar totalmente silencioso. Uma senhora não aguentava deixar de falar e depois de sussurar, demorou para se aquietar, e uma criança provavelmente precisou da fala para dominar o seu medo do escuro. Em total silêncio entramos no barco. Ronald e eu tivemos sorte de ficarmos no primeiro banco, assim tivemos a escuridão total à nossa frente, sem costas nos atrapalhando. O teto estava pontilhado de luzes dos glow worms. Só dá pra ver as luzes, felizmente, porque acho que não seria uma sensação muito agradável ver centenas de milhares de larvas acima da cabeça. Navegamos em total silêncio. Foi um atravessar das entranhas. Nossas? Da montanha? As duas? Nao sei... 

Seguimos então para o agrodome. Por mais de 40 anos, visitantes de todo o mundo têm vindo a Agrodome ver o famoso Farm Show - estrelado por um elenco de talentosos animais ...! Além disso, participar da Organic Farm Tour para explorar uma fazenda real de trabalho, e alimentação de animais amigáveis. Foi uma experiência ímpar, que nem a forte chuva que caía conseguia atrapalhar. 






Do Agrodome seguimos para Rotorua.
Rotorua é uma cidade da Nova Zelândia, situada na ilha norte. Tem 53 000 habitantes, dos quais um terço são maoris.
Rotorua é conhecida por estar localizada numa área de muita actividade geo-termal. Tem muitos geysers (Pohutu geyser em Whakarewarewa com 20m), fumarolas,  nascentes termais de água quente e lagoas da lama quente, localizadas na cidade.
A cidade tem um odor característico por causa da grande concentração de enxofre por conta do vulcão,que contam alguns nativos que ele ainda está em atividade.





O encontro com a cultura Maori também é imprescindível, a comida é ótima e o povo muito receptivo. 


Quem foi a Rotorua jamais esquece o cheiro. Estas emanações gasosas não são oriundas de flatulência crônica da população, tão pouco de ovelhas peidorentas, mas sim da grande atividade vulcânica em uma faixa que se estende por 250 km chamada Taupo Volcanic Zone. Rotorua fica na Ilha do Norte e fica situada literalmente no chamado Cinturão de Fogo do Pacífico, e por esse motivo escarpas, fendas, lama borbulhante, geysers, vapor d'água, e diversos tipos de gases sulfurosos são lançados nas ruas e arredores da cidade.
O constante cheiro de pum de ovo, na verdade são emanações de dióxido de carbono, dióxido de enxofre, pequenas quantidades de cloro e flúor. Rotorua tem uma infinidade de pontos com atividades vaporzeiras, corretamente chamadas de Termais e que se estendem até aonde o olfato e os olhos podem alcançar. O alegre turista irá se deparar com muitas dessas fendas emitindo vapor em plena rua sem a menor inibição. Na Ranolf Street, o Kuirau Park é cheio delas, tais como lagos de água fervente, poços de lama borbulhante, e buracos no chão donde saem aromáticos vapores. Ainda por cima existem banheironas públicas tipo spa, donde o cansado turista e seu super nariz, poderão relaxar. De manhã cedo e na beira do lago, no fim da Amohau Street (ao lado do Polinesian Spa), está um dos visuais mais bonitos, onde a água quente que é despejada no lago, faz uma cortina de vapor por sobre o dito. Com os primeiros raios de sol, grande parte do lago parece em ebulição, e é realmente espetacular de se ver.
O lago Rotorua é grande e cristalino, e é um dos pontos de referência dentro da cidade. O lago em si é na verdade uma caldeira vulcânica, que anda adormecida há milênios. De qualquer forma, está longe de ser um vulcão extinto. Em suas margens, um parque arborizado é um dos cartões de visita da cidade, e igualmente um ponto de referência. É de lá que saem inúmeros passeios de barco para várias partes do lago, desde contemplativos em barcos antigos com propulsão a roda com pás de madeira, até  jet boats velozes, que fazem muitas peripécias com boa dose de adrenalina. Tem também barcos exclusivos para pescaria de truta, que valem tanto pela diversão, quanto pela vista que se tem da cidade a partir do lago. Tem até mesmo hidroavião, para  respirar o ar puro das alturas, e ter aquele visual de águia da cidade e dos vulcões nas imediações. Patos, gansos e outros decorativos de lagos disputam o pão de cada dia que os alegres turistas jogam para eles, e basta chegar na beira da margem que a patalhada vem num alegre quá, quá, quá, ao seu encontro. A briga é feia na disputa pela iguaria, mas no final, todos ficam de papo cheio, pois o lago recebe mais turistas do que a população de penosos e afins.
O Centro de Rotorua é bonito e limpo, muito fácil de se locomover, em formato retangular. Tem bastante, comércio, restaurantes, boates, pubs e agito. Ao redor, fica a parte residencial, e na saída para Auckland, a parte industrial. A infra- estrutura é completa, com tudo que o turista possa precisar. Tem construções interessantes.  A cidade acorda tarde e dorme cedo. O centro da cidade em si não tem muitos atrativos, mas a quantidade de tours e aventuras que tem para fazer nos arredores vão além da conta.
A Arte e Cultura Maori dominam Rotorua. Boa parte da população Maori que lá reside é descendente da tribo "Tuhourangi - Ngati Wahiaoe" que antes habitava a Vila de Wairoa e que foi soterrada durante a erupção do Vulcão Tarawera. Whakarewarewa é o novo local de residência dessa tribo, e fica na área termal da cidade de Rotorua. A Thermal Village oferece a oportunidade de se ver in loco o dia a dia de vida de uma aldeia Maori, e talvez experimentar o famoso Hangi (ou Hango para os íntimos) que é cozido nos vapores naturais que saem do solo. O famoso Geyser Pohutu também fica dentro da reserva de Whakarewarewa e sua erupção de água fervente e vapor, chega a mais de 30 metros de altura. Existem outras aldeias Maoris nos arredores da cidade, como a de Te Puia, com seu instituto de artes e artesanato. Shows de Dança Maori são oferecidos em diversas vilas.  Roturua é uma cidade na Ilha do Norte que é parada obrigatória durante uma viagem pela Nova Zelândia. 

Foi um dia e tanto! Andar pelas entranhas na montanha, ter contato direto com ovelhas e alces, participar de um show dos Maoris que desperta instintos os mais primitivos, passar pelos gaysers - em alemão se diria Urerlebnis. Uma experiência que mexe com instintos, com sensações talvez uterinas, com sentimentos que remontam aos primórdios da vida ou da sua própria vida…  não sei. Mas que foi um dia impactante, isto lá com certeza foi. E imprescindível….

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